A história de Pipa é pouco servida por documentos ou registro.
Enquanto a América era descoberta e desbravada Pipa, provavelmente avistada pela luneta, recebia nomes de batismo que variavam de acordo com a nacionalidade e a inspiração do cartógrafo.
De mapa em mapa, foram documentadas 29 denominações, desde "Oratapipy" (Aldeia do Homem Branco), em Tupy-guarani, a "Itaquatiara (Pedra de Cor Amarelada ou Pedra Bonita); de "Itapuiparacei" (Pedra Inclinada para o Mar) a Pipa (versão corrente, por ter a forma de uma Pipa). Nem os coqueiros tinham aportado ainda por aqui, os ventos tinham outras árvores para brincarem. E, inocentemente, sopraram velas que trouxeram portugueses, espanhois, franceses e holandeses ao seu redor, desde o início do século XVI. As disputas encarniçadas não se ouviam nestas praias. Apenas o som do ressonar profundo do mar, de uma vila adormecida, sem pescadores e sem batismo, que nem sonhava com o nome ou com a primeira cruz que iria ter..
Próximo à Ponta do Madeiro, franceses vinham explorando as florestas de Pau Brasil, até que o Rei D. João III enviasse uma armada para despachá-los. Apesar dos holandeses terem ocupado o Forte dos Reis Magos durante anos, não existem muitas evidências da beleza morena de olhos verdes que a gente de Pernambuco (sede do governo invasor de Maurício de Nassau) vaidosamente ostenta. A mestiçagem do índio é mais reconhecível do que a negra, apesar de já na vizinha Sibaúna acontecer o contrário, por ter sido abrigo de escravos refugiados de um naufrágio e que teriam fundado uma espécie de quilombo.
Durante a II Guerra Mundial, quando Natal se converteu numa base aérea dos EUA, o chamado "Trampolim da Vitória" no combate do norte da África, Pipa permaneceu como um pacífico abrigo de golfinhos e tartarugas marinhas.
Se algum viajante nestes dias abordar o venerável e sempre disponível Sr. Antonio Pequeno, com seus ultra-passados 70 anos, e já neto de um pipense, e solicitar os seus dotes de poeta e contador de histórias, vai ouvir aventuras de lobisomens ou lendas de caiporas (curupiras), heróis ou vilões das noites de lua cheia de Pipa. Versões da história muito mais coerente com este mundo escondido no cotovelo do mapa brasileiro do que a dos outros mundos oficiais da História do Brasil.
Santuário Ecológico
Logo às portas de Pipa, entre a estrada e o mar, numa extensão de 60 hectares, o visitante deste "Paraíso" tem ao seu lado o "Santuário Ecológico". Um privilégio cultural, se o olhar for mais "Pagão", ou mística/espiritual, se forem os sentidos a viverem esta experiência diante de uma Mata Atlântica ainda em sua plena integridade. As frutas das árvores são todas comestíveis e estão à disposição. Com muita atenção podemos perceber os vestígios dos saguís (pequena raça de macacos), ou melhor, dos seus dentes nos cajueiros.
O jacu, pássaro do tamanho de uma galinha, pode ser visto só ao cair da tarde ou à noite comendo frutas como murici, angélica ou imbirindiba.
No ramo de um eucalipto pode estar o ninho do cômico xexéu. O lúdico "Poço do Silencio" é um bebedouro para raposas, guaxinins, gatos do mato e outros animais silvestres.
As trilhas se interrompem muitas vezes em frente a mirantes de visão estonteante, de cinematográficas praias, dunas e falésias.
Do "Mirante das Tartarugas" é possível avistar as tartarugas verdes que sobem para respirar e comer algas das pedras. Depois de tal visão não há como resistir às escadas à la"Indiana Jones" que levam a praia de Ponta do Madeiro. Ali, de novembro a maio, Tartarugas de Pente (Eretmochelys Imbricata) vêm por seus ovos. O santuário participa do projeto TAMAR, que visa preservar as tartarugas da extinção.